Aproveito o frio que me faz ficar deitado e perder a vontade de me levantar para lembrar da minha casa, da minha rua, família e amigos. Penso em um dia voltar para casa. E isso me faz lembrar da Rua da União, "onde todas as tardes passava a preta das bananas". A preta não existe mais. Nem as bananas. Muito menos a Rua da União, que hoje certamente já virou a "Rua Dr. Fulano de Tal". Muda o vasto mundo, e até os nossos pequenos Raimundos vão sumindo. E, se a tecnologia e as mudanças aproximam territórios e países, afasta os homens e suas lembranças.
A lembrança, aliás, é tal qual um arco-íris: pode aparecer sorrindo no final de dias tristes, mas nunca quando a gente chama - e não importa o quanto andemos, não podemos tocá-las. Assim, contentamo-nos com como elas brincam com nossos sentidos, transportando-nos para fotografias em movimento, que trazem, por vezes, sensações isoladas - temperatura, algum cheiro - e envolvem sentimentos por vezes adormecidos. Abrimos os olhos e aparentemente não mais está lá. Mas nunca realmente deixou de estar.
A realidade, afinal, é como uma tela que pintamos com a íris - o que mais, se não, justificaria a beleza multicolorida de um olhar? A memória seria, então, um papel embaixo da tela que absorve o excedente da tinta - daí, na verdade, a falta de foco. E, tal como um sonho, a memória compartilhada é mesmo a mais nítida. Quatro, seis, oito mãos que (re)compõem a mesma cena. Assim, atrelamos a imagem que fica, além de tudo, a pessoas e ternura, tornando-se imortal. E, aliás, é por elas - é por essas pessoas e o carinho que temos por elas - que retemos essas imagens.
As coisas feias a gente nem pinta, e, se pintasse, não guardaria. Não, não vale a pena. E essas pessoas fazem pulular essas imagens, como numa espécie de milagre da multiplicação: repintamos e pintamos sempre nossas memórias, restaurando as antigas e criando novas, quiçá ainda melhores. E acho que isso é próprio de coisa de todos os dias entre pessoas que se gostam.
Penso que nada do que se passou será perdido. Muito pelo contrário. E não precisamos de um objeto, algo no qual possamos pegar, para que isso não nos escape. O que temos é muito mais forte que isso. E está entre nós, que nos gostamos tanto.
A lembrança, aliás, é tal qual um arco-íris: pode aparecer sorrindo no final de dias tristes, mas nunca quando a gente chama - e não importa o quanto andemos, não podemos tocá-las. Assim, contentamo-nos com como elas brincam com nossos sentidos, transportando-nos para fotografias em movimento, que trazem, por vezes, sensações isoladas - temperatura, algum cheiro - e envolvem sentimentos por vezes adormecidos. Abrimos os olhos e aparentemente não mais está lá. Mas nunca realmente deixou de estar.
A realidade, afinal, é como uma tela que pintamos com a íris - o que mais, se não, justificaria a beleza multicolorida de um olhar? A memória seria, então, um papel embaixo da tela que absorve o excedente da tinta - daí, na verdade, a falta de foco. E, tal como um sonho, a memória compartilhada é mesmo a mais nítida. Quatro, seis, oito mãos que (re)compõem a mesma cena. Assim, atrelamos a imagem que fica, além de tudo, a pessoas e ternura, tornando-se imortal. E, aliás, é por elas - é por essas pessoas e o carinho que temos por elas - que retemos essas imagens.
As coisas feias a gente nem pinta, e, se pintasse, não guardaria. Não, não vale a pena. E essas pessoas fazem pulular essas imagens, como numa espécie de milagre da multiplicação: repintamos e pintamos sempre nossas memórias, restaurando as antigas e criando novas, quiçá ainda melhores. E acho que isso é próprio de coisa de todos os dias entre pessoas que se gostam.
Penso que nada do que se passou será perdido. Muito pelo contrário. E não precisamos de um objeto, algo no qual possamos pegar, para que isso não nos escape. O que temos é muito mais forte que isso. E está entre nós, que nos gostamos tanto.